sábado, 21 de agosto de 2010

Correios lutam para sair do caos em que se meteram por causa da política

A pouco mais de dois meses do fim dos contratos com os franqueados, empresa faz plano de emergência

Vera Batista

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que, desde 2005, tem seu nome associado a denúncias de corrupção, avisou que está pronta para substituir as lojas em poder de franqueados, caso não consiga finalizar, até o próximo 10 de novembro, a licitação que vem sendo questionada na Justiça. A companhia separou R$ 426 milhões de seu caixa para um plano de emergência, dinheiro que será usado na ampliação de postos próprios de atendimento, aluguel de imóveis, compra de móveis e reforço da frota de transporte.

A decisão de endurecer o discurso na disputa que trava com os franqueados nos tribunais faz parte da estratégia da ECT de sair, o mais rapidamente possível, do caos em que se meteu, depois de ter o seu comando rateado entre os partidos políticos da base aliada do governo. Modelo de eficiência, a empresa se tornou sinônimo de atraso e má prestação de serviço. Nem mesmo o tradicional Sedex escapou do apagão logístico enfrentado deste o fim do ano passado — a empresa viu a frota de aviões alugados cair de 13 para três e não conseguiu contratar caminhões a tempo para garantir os serviços.

A ordem do novo presidente dos Correios, David José de Matos, é chegar até o fim do ano com a casa arrumada, mesmo que isso implique não renovar com a totalidade dos 1.415 franqueados espalhados por todo o país, que respondem por 12% do atendimento da empresa. Segundo Mário Renato Borges da Silva, chefe do Departamento de Relações Institucionais da companhia, não há como a ECT passar por cima da Lei n° 11.668/2008 e de uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), ambas prevendo a revisão de todos os contratos das franquias. A renovação se baseou em um estudo de viabilidade econômica, que reduzirá, de R$ 860 milhões para R$ 670 milhões, o total pago por ano pela empresa aos prestadores de serviço.

Para a Associação Brasileira das Franquias Postais (Abrapost), que conseguiu suspender 80% das licitações em todo o país (os processos são regionais) é necessária a mudança imediata no edital de licitação publicado em dezembro de 2009, pois tal redução na remuneração dos serviços é inviável. “Defendemos o diálogo, mas não nesses termos” afirmou o advogado Marco Aurélio de Carvalho, representante da entidade. “A impressão que temos é de que o atual gestor parece irredutível com os franqueados”, ressaltou.

Segundo Carvalho, se o edital não for mudado, as agências franqueadas, responsáveis por 41,96% das receita da ECT e que geram cerca de 50 mil empregos diretos e indiretos, podem parar. “Há o risco de um apagão postal”, frisou. Na avaliação de Borges da Silva, dos Correios, esse alerta é uma exagero. Ele ressaltou que não é possível interromper a licitação no meio do caminho. E assegurou que mais de 180 contratos de renovação já foram assinados e a expectativa é de chegar a pelo menos 400 até novembro. “É importante ressaltar que o edital prevê, no meio do caminho, uma reavaliação das condições financeiras dos contratos, caso as franquias não se mostrem rentáveis”, destacou.

A guerra entre a ECT e os franqueados está mais acirrada em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, que concentram pouco mais de 400 lojas. “Vamos tentar negociar até o fim. E a Justiça está nos dando ganho de causa”, disse o representante dos Correios. Pelo processo licitatório, os ganhos dos franqueados ficarão entre 5% e 29% (quando maior o volume, menor a comissão) sobre os serviços prestados pelos franqueados do país. Pela tabela atual, os índices variam entre 10% e 40%. Ou seja, o ganho médio passará de 22,5% para 19,9%.

O número
R$ 670 milhões
Total a ser pago por ano pela estatal aos prestadores de serviço


Falta até caminhão

Além do imbróglio com as franquias, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) se vê às voltas com problemas de infraestrutura. Apesar de ter reposto a frota de aviões, totalizando, agora, 14, não está conseguindo fechar contratos com transportadoras para fazer a distribuição de mercadorias por terra. A demanda por caminhões é vital para garantir os serviços em dias nos trechos mais demandados — São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Há ainda a necessidade de contratação de 6,7 mil trabalhadores, o que deve ser feito em novembro por meio de um concurso, adiado por diversas vezes.

Segundo Mário Renato Borges da Silva, chefe do Departamento de Relações Institucionais da companhia, essas são questões vitais das quais não se pode abrir mão. “Os planos de recuperação da empresa estão traçados. Todos os 109 mil funcionários estão engajados em recolocar os Correios no devido lugar”, disse. Há, porém, uma preocupação entre os funcionários da estatal: o de que o sistema de marketing direto, considerado um grande filão, seja transferido para empresas estrangeiras.

Silva destacou que a empresa tem R$ 400 milhões para investimentos, que vão permitir a atualização tecnológica, o reforço das frotas e o aluguel de mais aviões. “No mais, todos os demais projetos, como a criação de uma empresa aérea, ficarão para o próximo governo”, afirmou. (VB)

Fonte: Correio Braziliense

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