sábado, 14 de agosto de 2010

Correios mantêm edital e preveem fim de mil franquias

Apesar das centenas de processos judiciais movidos pela rede de franquias e de toda a grita de associações contra as novas regras de negócio impostas pelos Correios, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está disposta a levar adiante sua nova proposta de remuneração para as lojas.


"Ninguém pode me acusar de ser inflexível", disse ao Valor o novo presidente dos Correios, David José de Matos, que assumiu o posto há duas semanas. "Nossa postura se baseia em um relatório técnico do TCU (Tribunal de Contas da União), que apontou qual é a viabilidade econômica do relacionamento dos Correios com as franquias."


A crise que a ECT enfrenta com sua rede de franquias não é recente, mas o relacionamento se complicou nos últimos meses com a divulgação do edital que trata da regularização dessas lojas, todas elas concedidas na década de 90 sem processo licitatório. Das 12,6 mil lojas dos Correios espalhadas pelo país, 1.415 mil são franquias. Com a aproximação da data de 10 de novembro para regularizarem a situação, conforme decisão do ano passado tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), as franquias pressionam os Correios para que as atuais margens de participação na prestação de serviços sejam mantidas. Para os Correios, no entanto, o assunto está definido.


Pela regra atual, a ECT paga ao franqueado uma participação sobre seus resultados que varia de 40% a 10%. Quem presta a menor quantidade de serviços tem uma fatia maior, enquanto quem vende mais fica com a participação inferior. O novo edital, no entanto, reduz esses índices para 29,5% a 5%, uma taxa de participação que, segundo a Abrapost, associação que representa os franqueados em todo o país, inviabiliza a maior parte das lojas.


Como a ECT garante que não vai ceder nesse quesito, o resultado da situação é bem claro: em três meses, a maior parte das franquias dos Correios vai sumir do mapa. A estatal já fez até suas projeções. A expectativa, segundo Matos, é de que, das 1.415 franquias, cerca de 400 concluam o processo licitatório e sigam operando dentro da lei. Pelos cálculos dos Correios, atualmente a estatal paga R$ 70 milhões por mês para as franquias. Com a nova tabela, esse valor deve cair para R$ 56 milhões.


Para não travar o serviço, Matos afirma que um plano de contingência de R$ 425 milhões já entrou em ação. Ao todo, serão montadas 400 lojas temporárias no país, das quais 140 serão erguidas em lojas dos próprios Correios e 260 em imóveis alugados. A estrutura vai garantir 3,3 mil guichês de atendimento, com apoio de 5 mil funcionários temporários. Hoje as franquias em operação somam cerca de 5 mil guichês.


"Sabemos que o momento é delicado e estamos com atenção total", disse Matos. "O importante é deixar claro que não existe essa história de apagão postal, os Correios não vão parar, o serviço está garantido."


No rol de negociações previstas com as franquias, Matos afirma que há espaço para discutir os tipos de serviços que as franquias podem prestar ao consumidor, mas sinalizou que a estatal vai agir para retomar parte dos contratos que migraram para a rede de parceiros.


Segundo Ronaldo Takahashi, diretor comercial dos Correios, nos últimos anos houve uma forte transferência de "clientes estratégicos" para a iniciativa privada que apoia a ECT, um grupo seleto de clientes com faturamento anual superior a R$ 3,4 milhões. "Notamos que estávamos perdendo para as franquias grandes contas como os bancos e as telefônicas, o que provocou uma distorção na empresa, já que poucos franqueados passaram a ganhar muito."


Na carteira de clientes estratégicos há cerca de 200 empresas, diz Takahashi. "Desses, 170 têm boa parte dos serviços prestados só pelas franquias. É preciso haver equilíbrio."


Fonte: Valor Econômico