sexta-feira, 30 de julho de 2010

Novo presidente dos Correios elege como prioridades o concurso e a licitação das franquias

Mariana Mainenti

O engenheiro David José de Mattos abre a porta de sua sala na Novacap e logo pede desculpas: “Não reparem porque não tem mais quase nada aqui, estou me mudando”. Na entrevista concedida ao Correio Braziliense em seus últimos momentos como secretário-geral da estatal do GDF, Mattos conta como conheceu a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, na Eletronorte, onde ambos trabalhavam. “Ela era novinha, tinha 19 anos, trabalhava em outra divisão. Mas não era uma secretária, era muito mais do que isso”. Assim que assumiu a chefia de outra divisão, não teve dúvidas: convidou a então estudante de Direito para trabalhar com ele: “Em um mês, ela era o meu braço direito”.

Três décadas depois, é por indicação de Erenice Guerra que ele assume a Presidência dos Correios (ECT), com a missão de sanear a empresa, que perdeu credibilidade e eficiência nos últimos anos. “Foi um pedido do presidente (Lula) para que ela monitorasse essa mudança nos Correios. Recebi essa missão e vou tentar fazer o melhor possível”, afirma Mattos, que teve ontem sua primeira reunião com a diretoria da empresa. Além dos diretores e da ministra, estavam presentes os titulares das pastas do Planejamento, Paulo Bernardo, e das Comunicações, José Artur Filardi Leite.

Saiu de lá com o discurso afiado e com quatro prioridades: realizar o concurso para os Correios em setembro, fazer a licitação para as franquias da empresa até novembro, melhorar a autoestima dos funcionários e regularizar as entregas de encomendas por via aérea. Ele também promete fazer uma grande intervenção nas regionais da companhia, nas quais o aparelhamemento político é evidente. A briga de diversas correntes por poder é um dos principais motivos para os péssimos resultados da estatal.

Os Correios estavam nas mãos do PMDB de Minas Gerais. Agora, serão comandados pela ala do partido do Distrito Federal, que tem como principal líder Tadeu Filippelli, o vice da chapa do petista Agnelo Queiroz na disputa pelo comando da capital do país. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Intervenção nas regionais da ECT

Quais serão as prioridades do senhor à frente dos Correios?
Depois das muitas acusações de irregularidades lá dentro, começou a haver uma pressão muito grande em cima dos empregados, de tal forma que eles perderam a segurança de trabalhar. Sentem-se acuados. A ideia é aproveitar esses cinco meses que tenho à frente da empresa para resolver algumas questões primordiais. Por exemplo, o concurso. Vão marcar a prova para 19 de setembro. Já externei a preocupação de que tudo ocorra sem problemas. Porque os últimos concursos no Brasil… Vira e mexe, existe vazamento de informações. Você já imaginou? Há um milhão de pessoas concorrendo a esses cargos. A gente tem, também, que atacar a questão da regularização da parte de encomendas áreas. Houve atraso na contratação, o que está afetando o desempenho dos Correios.


"Quando as encomendas atrasam, é lógico que as pessoas vão enviá-las de outra forma. Se elas chegarem no prazo certo, a tendência é que as receitas cresçam"
Depois do Plano de Demissão Voluntária (PDV), houve contratação de terceirizados. Essas empresas vão continuar trabalhando nos Correios?
Conversei hoje com os diretores e eles entendem que nós vamos precisar de uma terceirização para enfrentar a demanda de final de ano. Temos eleições, concursos do tipo do Enem, que exigem muito. Sem falar no Natal. Já está em andamento a contratação de pessoal temporário para cobrir a demanda. Com o concurso acontecendo em setembro, já nos primeiros meses de 2011 haverá a resposta e a mão de obra dos Correios voltará a ter o mínimo necessário.

Serão feitas licitações para as franquias?
Nós vamos fazer a licitação até novembro. É uma data fatal para os Correios.

Haverá espaço para modernizar os Correios?
Seria hipócrita da minha parte dizer isso. A gente tem que focar nesses assuntos em que pode interferir e melhorar. No próximo governo, a coisa já não estará como foi há dois, três meses atrás. Essa é a recomendação do presidente Lula, que nos foi passada pela ministra-chefe da Casa Civil. Nossa missão é recuperar a autoestima dos empregados e fazer com que os Correios possam superar essa crise.

É possível melhorar o tempo de entrega de encomendas?
Os Correios acontecem nas regionais. Em algumas delas, os índices de qualidade estão aquém daqueles que os Correios vinham adotando. O primeiro diagnóstico que a gente fez é que, talvez, o corpo central de Brasília tenha se distanciado das regionais e houve muita interferência na nomeação desse pessoal. Vamos ter que atuar nelas de tal forma que a gente exija o compromisso e possa mudar. Isso é imediato. Quando as encomendas atrasam, é lógico que as pessoas vão enviá-las de outra forma. Se elas chegarem no prazo certo, a tendência é que as receitas cresçam.

Como o senhor conheceu a ministra Erenice Guerra?
Eu trabalhava numa divisão da Eletronorte e ela, numa que era cliente do meu trabalho. Ela era novinha, tinha 19 anos e era secretária. Como tínhamos muito contato, percebi que ela era muito mais do que uma secretária. Era uma auxiliar lá dentro da divisão. Quando eu assumi um departamento, a primeira pessoa que eu convidei para trabalhar comigo foi ela, mas não mais como secretária. Foi para a gente trabalhar juntos. Ela estava fazendo o curso de direito. Trabalhamos juntos cinco anos e, depois, no governo do Cristovam Buarque, no GDF. Eu estava no Metrô. Ela sempre foi uma pessoa do PT.

Desde o começo, o senhor já via o potencial da atual ministra?
Sem dúvida. Sempre uso a história dela como exemplo. Às vezes, damos oportunidade para um monte de gente, mas 90% não aproveitam a chance. Em menos de um mês, ela era meu braço direito, porque realmente se destacava das outras pessoas. Essa amizade continua, apesar de a gente ter se afastado. Ela foi para o Ministério de Minas e Energia e eu fiquei no governo do Distrito Federal. No ano passado, conversamos para eu ocupar um outro cargo no governo federal, mas acabamos achando que, naquele momento, não era uma boa. Agora, a pedido do presidente, ela precisou fazer essa mudança nos Correios e me convocou. Não tinha como dizer não. Tenho certeza de que, se fosse o contrário, se eu precisasse dela, ela viria também. Essa relação de amizade, de confiança, ajuda. Eu posso contar com ela e ela sabe que pode contar comigo.

No ano passado, o senhor foi chamado para que cargo?
Era na Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Não era de diretor, mas numa área muito importante, de concessão. Um cargo complicado porque era muita demanda e, naquele momento, achei que não era interessante. Até porque era mais na área de usinas e o meu perfil como engenheiro é em sistemas. Deixamos de lado. Agora, recebi essa missão e vou tentar fazer o melhor possível.

Há quanto tempo o senhor conhece a ministra?
Hoje, na reunião, falei que nós trabalhamos juntos há 30 anos e ela me deu uma bronca. Mas ela era uma menina. Foi na década de 1980. De 1980 a 1985, ela estava em outra divisão e, de 1985 a 1990, trabalhamos lado a lado. A minha amizade com o (deputado federal pelo PMDB, Tadeu) Filippelli também começa na Eletronorte. Ele trabalhava com ela, na mesma divisão. É uma amizade que a gente tem há mais de 30 anos. Por isso, eu não podia negar esse convite que ela me fez.

A sua indicação passou pelo deputado Filippelli?
Logicamente, ela sabe da minha amizade com o Filippelli. Se eu fosse ligado a um deputado que tivesse qualquer rolo ou não fosse uma pessoa séria, pode ter certeza de que, apesar de a gente ser amigo, ela não teria me convidado. A participação do Filippelli nessa história é que ela sabia que teria o respaldo não só do PMDB de Brasília, mas do PMDB nacional. Foi tudo coincidência das nossas relações de amizade e, ao mesmo tempo, de ser ele o presidente do PMDB no Distrito Federal. O apoio político dele e o apoio técnico e pessoal dela é que fizeram com que eu fosse escolhido.

Fonte: Correio Braziliense