sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Queda de Erenice gera efeito dominó na família

Suspeito de ser funcionário fantasma na Terracap, filho da ex-ministra é exonerado pelo governador do DF. Irmão de Erenice perdeu cargo que ocupava na Novacap

Alana Rizzo
Tiago Pariz

Israel Dourado, filho de Erenice Guerra, e José Euricélio Alves de Carvalho, irmão da ex-ministra, foram exonerados ontem pelo governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB). O Correio revelou que Israel, suspeito de comandar um esquema de lobby envolvendo a antiga chefe da Casa Civil, era funcionário fantasma da Terracap, empresa vinculada ao GDF. A Corregedoria-Geral do Distrito Federal abriu procedimento administrativo para apurar irregularidades e o ressarcimento aos cofres públicos dos possíveis valores recebidos indevidamente como salário. Foi determinada ainda a suspensão de qualquer pagamento que ele teria para receber. No próximo mês, Israel embolsaria parte dos R$ 10,7 mil previstos este ano no Programa de Participação de Resultados (PPR) da empresa.

O filho da ex-ministra ocupava cargo comissionado na Diretoria de Prospecção e Formatação de Novos Empreendimentos desde dezembro de 2008. Ele recebia R$ 6,8 mil por mês. Sem ponto eletrônico, assinava mensalmente a folha de ponto. Desde segunda-feira, estava de “folga”. Garantiu, ironicamente, um abono assiduidade. O benefício, previsto em acordo coletivo, só pode ser concedido para funcionários que não tiveram faltas registradas no último ano. Funcionários da Terracap afirmam que Israel não aparecia para trabalhar. Os dados do advogado estavam incompletos no Cadastro de Servidores do DF. O CPF dele estava em branco e o campo “sexo” estava preenchido como feminino.

Desaparecido
Euricélio, irmão da ex-ministra, também deixou o cargo comissionado na Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Ele era funcionário do departamento de auditoria, vinculado à Presidência, desde maio. Tinha salário de R$ 4,1 mil, mas desde o início da semana estava desaparecido do cargo.

Antes, foi secretário executivo do Comitê Consultivo de Políticas Públicas, Normas e Ações de Fiscalização do Uso e Ocupação Irregular do Solo do DF, ligado ao ex-governador José Roberto Arruda. No Ministério das Cidades, Euricélio foi assessor da Secretaria de Mobilidade Urbana. Ocupou ainda cargo na Fundação Universidade de Brasília. Nessa época, foi acusado pela Controladoria-Geral da União (CGU) de desviar recursos de projetos educacionais e de contratar o sobrinho Israel para cursos que não aconteceram. As irregularidades ocorreram durante a gestão do ex-reitor Timothy Mulholland, com Alexandre Lima à frente da Editora UnB.

Há dois anos, o irmão de Erenice fugiu da sede da Editora UnB momentos antes de uma operação da Polícia Federal (PF) que investigava contratos da instituição. Ele levou documentos e o Hard Disk (HD) de um computador. Na universidade, ele era responsável pelas contas da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP) do DF e de outros quatro projetos de inclusão digital apontados como foco de desvio de dinheiro na administração de José Roberto Arruda. A reportagem não conseguiu localizar Israel e Euricélio para que eles comentassem as acusações e as demissões.

Titular dos Correios “fica”

O presidente dos Correios, Davi José Matos, descartou a intenção de pedir demissão do cargo depois de Erenice Guerra, sua padrinha política no governo federal, ter sido demitida da Casa Civil por suspeita de tráfico de influência e de montar uma rede de sustentação que chega até a administração do Distrito Federal. “A indicação foi dela, mas a nomeação foi do presidente Lula”, afirmou Matos em entrevista ao Correio. “Não vou abandonar o barco e deixar os Correios à deriva”, emendou. O presidente dos Correios é, segundo suas próprias palavras, amigo de Erenice há mais de 30 anos. Antes de chegar à estatal, era secretário-geral da Novacap, empresa que tinha em seus quadros José Euricélio Alves de Carvalho, irmão de Erenice demitido ontem.

O presidente dos Correios disse não estar constrangido de permanecer no cargo. Ele citou que não teve qualquer conexão com o suposto lobby de Israel Guerra, filho de Erenice, que beneficiou a MTA Linhas Aéreas a renovar licença na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e conseguir um contrato com os Correios. Segundo ele, tudo isso teria ocorrido no fim do ano passado, quando Matos não era dirigente da estatal. “Constrangimento haveria se esses fatos tivessem ocorrido na minha gestão. Daí eu ficaria constrangido”, afirmou Davi Matos. “Sou gestor público. Se tivesse erro, eu teria saído antes dela. Mas não recebi nenhuma sinalização do Palácio do Planalto para deixar o posto”, disse.

Dolorido
Matos afirmou que conversou com Erenice ontem, logo após ela deixar o cargo, para saber como estava a amiga. “Amigo de verdade aparece nas horas difíceis”, disse. “Hoje (ontem) ela precisa da palavra de um amigo, mas foi uma conversa rápida, só para perguntar como ela estava. Sou amigo independentemente de tudo, sobretudo na hora difícil. Não quis falar muito porque é um momento dolorido”, afirmou.

O presidente dos Correios disse prezar pelas amizades. “Tenho valores fortes em relação aos amigos. As pessoas com que me relaciono para tomar uma cerveja ou jantar num fim de semana são as mesmas de 30 anos”, sustentou. Matos negou que conhecesse Euricélio, irmão da ex-ministra. “Eu não sabia que ele era irmão da Erenice. Liguei para ela quando saíram noticias dizendo que ele era irmão dela”, sustentou. “Se você conhecesse o Euricélio, não saberia que ele tinha como irmã uma ministra com o poder que tinha até hoje. Ele era uma pessoa subalterna”, afirmou.

Personagem da notícia
Em nome da mãe

Aos 32 anos, Israel Dourado Guerra soube aproveitar a influência da mãe. Desde 2004, ele já foi nomeado para quatro órgãos públicos distintos. Primeiro foi chamado para assumir a Coordenação de Assuntos Jurídicos no Ministério da Cultura. Dois meses depois, uma portaria revogou a decisão. Em 2006, ele foi contratado para ocupar o cargo de gerente técnico da Superintendência de Serviços Aéreos na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Nesse período, ele se aproximou de Vinicius de Castro, ex-assessor da Casa Civil, que pediu exoneração no início da semana em função das denúncias.

No ano seguinte, Israel foi contratado para trabalhar no gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça DF, à época ocupado por Leonardo Bandarra. O procurador foi afastado depois da Operação Caixa de Pandora e responde a processo no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Com a criação da diretoria de Prospecção na Novacap, o advogado assume o cargo de assessor. Como não comparecia à empresa, Israel tinha tempo para comandar, segundo as denúncias, o esquema de lobby no governo federal. Negociava com empresários projetos do governo, ressaltando sempre sua proximidade com o poder. Ele foi o pivô do escândalo que derrubou Erenice Guerra de um dos postos mais importantes do Executivo brasileiro. (AR)

Fonte: Correio Braziliense

2 comentários:

  1. Brasília, 17 Agencia do Estado - O processo formal de investigação das denúncias de tráfico de influência que será aberto pela Comissão de Ética
    Pública contra a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra pode resultar na abertura de um novo processo, desta vez contra o
    diretor de Operações dos Correios, Eduardo Artur Rodrigues Silva. Ele comandou a empresa Master Top Linhas Aéreas
    (MTA), que segundo denúncias teria conseguido firmar contrato com a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) com a
    interferência do filho da ex-ministra, Israel Guerra.

    Segundo o relator do caso na comissão, Fábio Coutinho, se houver a abertura do processo e constatada a irregularidade,
    Eduardo Silva poderá ser processado por infração ao Código de Conduta de Altas Autoridades, e receber como punição uma
    advertência ou até a recomendação de demissão.
    (Tânia Monteiro)

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  2. Diria aquele forró, Erenice:

    CHUPA QUE É DE UVA

    kkkkkkkkk

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